quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Não lamente. O que se perde retorna em outra forma.

Jalal Ad-Din Muhhamad Rumi (1207-1273)

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Carta não enviada

Ler Ouvindo


Olá Desconhecido.

É com muita estranheza que mando esse email. A dificuldade em ter coragem para escrevê-lo até o final é grande, mas tenho a necessidade de fazê-lo.

Faz muito tempo que não nos falamos, muito menos nos vemos, não consigo ter certeza de como você vai receber isso. Como a probabilidade de nos esbarrarmos por ai é mínima e como eu não tenho mais seu número (roubaram meu celular com todos os meus contatos), mando esse email.

Bom, o único intuito é de te pedir desculpas. Imagino que isso não faz o menor sentido e nem vai modificar alguma coisa agora na sua vida. Mas depois de ler uns textos que escrevi em 2009, percebi o quanto fui vil. Consegui ultrapassar a barreira da infantilidade que é aceitável numa menina de 18 anos, chegando a ser perversa. Acho que causei danos que não eram necessários e disso me envergonho.

Só estou desenterrando essa história agora porque realmente me fez muito mal ler o que escrevi. Procurei por emails que trocamos como farpas naquela época e me senti pior ainda. E só me senti mal porque de alguma forma você teve relevância num momento da minha vida. Espero que não encare isso negativamente. Eu realmente gostaria que soubesse que me arrependo da forma leviana que me comportei naquele momento.

Desculpe o incomodo com isso tudo agora.

Cordialmente,

Amizade

Ler ouvindo.

Com pouco esforço ainda sinto meus lábios sensíveis pelos beijos quase carnívoros que tivemos. Com gosto de cerveja, com gosto de cigarro, com a textura da sua barba macia. Qualquer imaginação depois dessa a vergonha me impossibilita de descrever. É uma vergonha safada, uma das piores que considero existir entre duas pessoas. Vergonha que não tem endereço fixo e fica, ora nas conversas polidas e cheias de cuidado, ora entre minutos breves de euforia representados pelos abraços apertados, pelas mãos contidas tentando sentir algum centímetro de pele. Com você a bipolaridade alcança níveis alarmantes, chega à beira da loucura. Mediante tanto conhecimento desconhecido um do outro, acabo optando pela perda. Perda da contínua incerteza, perda das possibilidades. Com você me sinto em alerta em cada palavra, em cada idéia, em cada tudo. Não consigo falar em primeira pessoa, não consigo te enxergar de forma pessoal. Ainda tenho dúvidas cruéis sobre quem é você, o que você quer, até onde posso ser de verdade com você. Isso tudo porque as informações que vim guardando de você são borrões, que se juntaram formando algo que talvez fosse melhor não existir. Estar com você me trava tanto que passei a ter vergonha de escrever pra mim mesma. Por isso me distancio, me calo, me torno um ser sem surpresas, entediante. Escolho a amizade sem as expectativas desse caminho esquizo.