segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Cidade Deserta

Azul. É a cor predominante aqui. Vem do céu e inunda as casas, as ruas, as pessoas. É como a cegueira de quem chega perdido numa praia deserta. O único som é o vento. Ensurdecedor. Sem esquinas nem objetos no caminho para alterar seu timbre. Estou perdida numa cidade deserta. Aqui não tenho família. Aqui meus sonhos são turvos. Aqui sou assexuada. Aqui não tenho paladar. O sol é motivo de solidão como a chuva é de tristeza. As pessoas são desconfiadas, os cachorros são traiçoeiros. Aqui toda a minha sensibilidade é decantada. É separada da indiferença que se tornou a marca relevante. Não choro mais. Não escrevo mais. Não canto mais. Não desejo mais. Não desejo mais nada. Até pouco tempo atrás me sentia como um bêbado que tem e sabe o caminho de casa. Agora não tenho mais casa. Agora me sinto sem teto, sem carinho, sem cuidado, sem amor. É estranho como isso não me dá mais nó na garganta. Tudo parece estar dormente, petrificado, esperando umas palavras mágicas, uma reza forte.

Nenhum comentário: