quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Paradoxo

Faz um tempo que estou vivendo um paradoxo de proporções sísmicas. O nascimento, a morte e o que vai no meio dessas duas pontas. Olho pro lado agora e vejo uma mulher, senhora - melhor descrevendo- com as unhas pintadas, o cabelo arrumado, roupas visivelmente cuidadas. Mas apesar de tanta vaidade a pele das mãos, dos braços, as pálpebras indicam sinal da velhice, da distância do nascimento, da proximidade com a morte. Vinda de trás, ouço risadas de uma menina. Não posso vê-la mas imagino que seja como qualquer menina de seis, sete anos. A voz, a viscosidade da pele, a ingenuidade são evidências de poucos anos de desgaste. E no meio dessas duas pontas, estou eu, perdida. Ver a velhice se aproximando, não só de mim, me faz querer desistir de tudo e sentar para assistir a efemeridade da vida. Como pode tanta coisa, tanta densidade, tanta dor, sofrimento, saudade, desgaste para tão pouco tempo de vida? Sinto falta incontrolável do que eu fui, sinto saudade das pessoas com quem convivia. Sinto falta principalmente da leveza que eu tinha. Estou sozinha agora. Isso não me assusta nem me envergonha. Acho que não aprendi ainda a reciclar minhas perdas em algo produtivo. Parei numa fase improdutiva, triste e solitária. O que impede um impulso para sair desse estado é o tal paradoxo, vida e morte. Não sei administrar o futuro e a possível mediocridade, que qualquer um está sujeito, mas que eu sempre tive medo de me ver desse jeito. Saber entender, aceitar e adaptar minhas limitações com os sonhos e planos embaçados não é tão simples para mim. Apostar em escolhas sem abrir brechas para dúvidas sempre parece impossível. Não vejo solução imediata para isso, estou apenas vivendo coisas, sem euforia, paixão,apego. Estou cansada, aos vinte anos.

2 comentários:

Marcia disse...

Vc aos 20, eu aos 50... Não tem como deixar de fazer essa comparação!!! Vc já é o caminho, a verdade e a vida... O pão da alegria descido dos céus!!! parabéns titia por tanta sensibilidade para a realidade da vida... Sou espectadora do show da vida que vejo brotar de você , Marcel, Alan......... é bonito demais esta ainda por aqui acompanhando vcs... assim, cuidando de entender a existencia. ATENTOS(como diz meu amigo Luiz)
bjssssssssssssssssssssssadorei!!!!

mel disse...

Lala,

O exercício da consciência é desgastante, principalmente quando convivemos com realidades e pessoas que pararam de praticar o esporte e acham que a bola furou.

Não existem certezas e sentimentos eternos pq vivemos no momento. O tempo é tudo oq há. A consciência é desgastante pq agora vc já aprendeu a olhar os ponteiros do relógio, o barulho do marcador dos segundos já incomoda.

Aí é a hora de criarmos relações e situações novas que nos tragam momentos que valem a pena viver. Esses momentos não se repetirão, a felicidade está em dar importância a esse fato.

O segundo feliz que passou veio em seguida do triste. E todos fazem o mesmo barulho, só que a gente só ouve quando presta atenção no relógio.